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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Deixem-se lá de bananices!

O tema da pontualidade cada vez mais tem vindo a ser debatido: tanto pelos entendidos no assunto, como pelos que não pescam nada de nada da matéria, mas, no entanto, decidem presentear-nos com as suas opiniões e comentários – na maior parte das vezes, estapafúrdios. De acordo com aquilo que nos é ensinado ao longo dos anos, em termos de etiqueta e cortesia, sabe-se que a pontualidade é sempre apontada como uma das mais importantes caraterísticas que devemos ter em conta. Ninguém gosta daquele banana que nos deixa, vezes e vezes sem conta, a apanhar uma grande seca – mas a verdade é que de vez em quando, todos vestimos a pele desse banana (pelo menos falo por mim – sou banana assumida).

Ouço, por aí, muita gente afirmar, com toda a pompa e ainda maior circunstância, que os portugueses são um povo que não é capaz de cumprir horários. Confirma-se. Eu, em tempos, já fui uma pessoa que possuía o dom da denominada “pontualidade britânica”, mas, tal como aquelas pessoas que só por irem de viagem, durante uns diazitos, a França, chegam com aquele sotaque “afrancesado”, também eu, por viver em Portugal, me senti obrigada a seguir os costumes e os hábitos nacionais (não quis, de todo, ser a excomungada de serviço), logo, desenvolvi esta patologia caraterizada, antes de mais, pela capacidade de provocar irritação ao próximo e pela sensação de reconforto do nosso ego: e que, eventualmente, se manifesta pela ausência de noção de tempo, horários e compromisso.

Na boa terminologia de um português: nada é o que parece. Quando marcam alguma coisa com alguém e essa pessoa vos liga a dizer: “Já estou a sair de casa”, tenho imensa pena em informar-vos, mas aguarda-vos, pelo menos, mais uma meia hora de espera. Sim, porque essa pessoa, na melhor das hipóteses, está ainda em pijama, toda babada e a sair da cama.

O português é perito em dar à mais simples frase um significado completamente diferente. O que lhe confere, imediatamente, uma enorme vantagem. Ou seja, quando o português diz simples frases tais como: “já vou a caminho”, “já estou no carro”, “vou agora mesmo a sair de casa”, “não demoro muito”, “daqui a 5 minutos estou aí” e muitas outras (que se prolongariam ao longo de uma imensidão infinita de parágrafos), fazendo a pessoa em questão acreditar na veracidade daquela afirmação, está, subliminarmente, a dizer à pessoa: “Aguenta-te aí um bocado que eu tão depressa não chego”.

Poderia, agora, empreender uma viagem mais profunda e com bastantes mais exemplos práticos pelas artérias da incapacidade, bem portuguesa, de cumprir horários. Mas sabem que mais? Não o vou fazer. E isto porquê? Porque eu, como boa portuguesa que sou (e querendo salvaguardar, mais que tudo, aquilo a que chamamos de tradição), considero não estar atrasada o suficiente para tal, portanto: esperemos.



Bom, agora sim, já me sinto na condição de atraso suficiente, portanto vamos lá!

Há um ditado que diz que “tempo é dinheiro”. Bom, tendo em conta a pontualidade dos portugueses, não admira a crise que assola o nosso país. No meio profissional, a pontualidade é um fator fundamental – nas nossas vidas pessoais também o deveria ser. Eu, pessoalmente, detesto ter que ficar à espera de seja quem for (quero lá saber se é o Papa ou o Presidente da República): leva-me à insanidade! Mas no que toca a pôr outros tristes, desafortunados, à minha espera, aí a conversa já muda de tom. Eu, na minha condição de cidadã portuguesa, gosto de fazer as coisas nas calmas, sem pressas. E isto começou porquê? Exatamente porque me fartei de ter de esperar pelo banana que se atrasa sempre – e tornei-me eu própria na banana atrasada.

Muitos diriam que nós, portugueses, somos muito pouco pontuais. O limite de tolerância é de 15 minutos, mas estes 15 minutos, para um bom português, são só uma brincadeira de crianças: há que ir muito para além disso. Por isso, como é facilmente perceptível, essa gente, que vem agora defender isso, já vem atrasada. O que, no fundo, não é de estranhar: ou não fossemos nós um povo que dá grande importância aos costumes e tradições. Aliás, o mundo em geral está ciente da noção portuguesa de “horas”. A falta de pontualidade por parte dos “tugas” já atingiu tal patamar, que poderia, até, ser considerada Património Cultural.

Para finalizar, queria, agora, deixar uma mensagem às gerações futuras: Inventem relógios de jeito (daqueles que dão pancadaria e tudo quando estamos atrasados – situações extremas requerem medidas extremas!) e deixem-se de bananices, ou então, qualquer dia, em vez de precisarmos de sementes para plantar árvores, vamos usar somente as pessoas vítimas de bananicídeo – dado que estas ganharam raízes, de tanto esperar. Acho muito bem que queiram salvar as árvores – mas tratem, por favor, de salvar os humanos primeiro. 

Um abraço!

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