O que fazer quando estamos a ser
perseguidos por um preto (perdão: indivíduo de raça negra) que nos tenta
convencer, incansavelmente, a comprar óculos de sol e girafas
esculpidas em madeira? Ora, em primeiro lugar: com que propósito iria eu
comprar uma girafa de madeira? Pergunto-me se haverá realmente alguém a
comprar aquilo. É um assunto que me intriga. Qual será a finalidade de
uma girafa esculpida em madeira nos arredores de Zimbabué? Se eu tivesse
uma girafa de estimação, suponho que poderia servir-lhe de, sei lá,
ornamento para a coleira ou, até, como peça de decoração de habitat. Mas aqui está o problema: é que eu não tenho girafas de estimação. O meu pai não deixa.
Aliás: o meu vizinho Alberto é o ser que
mais se aproxima da definição de girafa, tendo em consideração o
pescoço estupidamente grande que tem. Mas não me parece, de todo,
adequado, oferecer-lhe uma girafa de madeira. O senhor poderia levar a
mal. E, além do mais, ele nunca me ofereceu a mim uma joaninha esculpida
em madeira (tendo em conta que me chamo Joana, parece-me uma falha
tremenda da parte dele), porque é que eu haveria de lhe oferecer uma
girafa? Caro amigo: a vida não está fácil para ninguém. Se quer uma
girafa esculpida em madeira, então compre-a você!
Depois há aquele senhor que passa os
dias a vender meias na rua abaixo da minha escola. Não há um único dia
em que eu passe por ele e não o oiça a gritar: Meias! Meias! Olha as meias! Três pares por cinco euros! –
isto na altura até me pareceu um bom negócio, devo confessar. Era uma
profissão a que eu era capaz de me dedicar: à venda de meias. Acho que
tinha futuro. Quais são os pais que não sonham ver os filhos como
futuros vendedores e vendedoras de meias?
O meu interesse por esta profissão
fez-me levar a cabo uma investigação aprofundada na área da compra e
venda de meias. Descobri, assim, que o senhor das meias vende marcas
chiquérrimas como a Adido, a Niko, a Pumi e a Reeboka. Quem nunca sonhou com umas meias da Niko?
Bem que me estavam a fazer falta umas, já que as minhas desaparecem
sempre misteriosamente durante a noite. Vou para a cama com elas? Sim.
Quando acordo elas ainda estão lá? Negativo. Será que a atração
gravítica da Terra faz com que as minhas meias desapareçam em regime
noturno, para os arredores galácticos, e orbitem em redor do planeta?
Deixo-vos com essa reflexão. Agora
permitam-me que vá comer uma lata de leite condensado às colheradas.
Caso eu não regresse na semana que vem, é porque faleci devido à elevada
concentração de açúcar na minha corrente sanguínea.
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