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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Apolinário usa cuecas da Calvin Klein

Há não muitos anos atrás, considerava-me rebelde quando ficava acordada até às onze da noite a ver o Canal Panda sem os meus pais saberem. Ou quando cortava o cabelo às minhas Barbies e lhes arrancava membros (suspeito que há fortes probabilidades de eu um dia vir a ser uma temível sociopata). No entanto, hoje em dia, estes fatores já não contribuem para o meu estatuto de “pessoa razoavelmente rebelde”.

Como boa profissional que sou, andei a investigar esta questão da rebeldia nos jovens. Consultei a opinião de vários psicólogos, e grande parte deles afirma que a rebeldia na adolescência se deve a uma procura de uma espécie de espiritualidade dentro deles – jovens. Posso não ser licenciada em Psicologia (louvado seja Deus), mas a mim parece-me que a frase: “são rebeldes porque são estúpidos” foi terrivelmente mal escrita por parte destes psicólogos.

Vejamos o exemplo prático de Apolinário, um jovem alentejano de dezasseis anos. Apolinário foi nascido e criado no seio de uma família com bons costumes. Ia à escola, praticava desporto, ia à missa todos os domingos e era um miúdo bem-educado. Sabia estar sentado à mesa e usar a faca e o garfo corretamente. Não arrastava a cadeira quando se sentava, e pedia sempre licença para se levantar. Mas houve um dia em que Apolinário deixou de ser o Apolinário que a sua família até então conhecia.

Apolinário, a 18 de fevereiro de 2010, saiu da escola ao final da tarde, e regressou a casa de autocarro, como fazia sempre. No entanto, ao chegar junto de seus pais, era facilmente observável que Apolinário não era o mesmo. Apolinário estava mudado. Chegou a casa com todo um léxico desconhecido por parte dos restantes familiares e proferia palavras que seus pais nem tinham a certeza de serem aceites pela Bíblia ou pela comunidade cristã. As suas calças novas da Levis tinham sido brutalmente rasgadas e o seu cinto tinha desaparecido, deixando-lhe os boxers cinza da Calvin Klein à mostra. Os seus progenitores ainda ponderaram a hipótese de ter ocorrido um assalto a caminho de casa, mas quando confrontaram Apolinário com esta possibilidade, este apenas respondeu: Yó, niggas, bazem. Yolo, swag e vida loka, bitches! – como se já não bastasse o facto de trazer as calças ao nível dos joelhos e de se chamar Apolinário, o miúdo também falava como uma pessoa possuidora de uma deficiência mental… pobre criança.

A verdade é que todos temos um Apolinário dentro de nós (metaforicamente falando, claro). A única diferença é que nós não usamos cuecas da Calvin Klein, que não há dinheiro para isso. Mas, caros psicólogos, permitam-me que vos diga que essa teoria da procura da espiritualidade faz tanto sentido como um esquimó a escovar os dentes a um mamute enquanto este faz o pino e corta as unhas dos pés (perdão: patas) ao som do mais recente álbum do Justin Bieber.

Sim, Joana Camacho também se inclui neste fatídico grupo: “os adolescentes”. E Joana Camacho é igualmente estúpida quanto qualquer um deles. Anda com as cuecas de fora, sim. Mas exclusivamente porque não é particular apreciadora de cintos. Qualquer semelhança com uma tentativa de rebeldia é mera coincidência.

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