Páginas

domingo, 2 de dezembro de 2012

Professora, não fiz o trabalho de casa

Juro que foi só hoje. E ontem. E no dia anterior. E na semana antes também. Sim, caro leitor, é isso mesmo que está a pensar: não fiz o trabalho de casa... É pá, falhou! A minha vida não é só isto! O que acontece é que os professores (essas criaturas) pensam que nós não temos mais nada que fazer da vida e mandam-nos carradas de páginas para ler, exercícios para resolver e "fichas de trabalho muito interessantes" para nos entretermos, dizem eles. Criaturas: lá por vocês não terem vida e serem uns agarrados, não quer dizer que a nossa vida social não seja ativa. É! Tábom? Então parem lá com isso.

Só quero o bem dos meus leitores e, por essa mesma razão, hoje vou partilhar convosco boas desculpas que podem usar para quando não tiverem feito o trabalho de casa e o professor (ou professora) vos perguntar porque razão não o fizeram. Sou ou não sou uma gaja porreira? Vá, agora não podem dizer mal de mim.

- Ora bem, quem é que não fez o trabalho de casa? Ninguém? Vá, quem não fez o trabalho de casa põe o dedo no ar. Eu vou perguntar!

Começa sempre assim. E é neste momento que têm de pensar rápido. Não há tempo para pensar que há pegadas no teto, que a professora está vestida que nem uma galdéria, ou noutra coisa qualquer. Não! Têm de pensar imediatamente naquilo que pretendem fazer: levantar o braço e arranjar uma desculpa para não terem feito; copiar rápida e discretamente o trabalho de casa por alguém; ou aldrabar aquilo tudo e dizer que está feito. Eu, pessoalmente, opto por ir variando. Não gosto muito de coisas monótonas. Por exemplo: se como esparguete à bolonhesa à terça-feira, não vou comer novamente à quarta. Não faz sentido. À quarta como lasanha ou outra coisa qualquer. Esparguete à bolonhesa é que não. É preciso ir variando. E com os trabalhos de casa passa-se a mesma coisa. Ora digo que não fiz e dou uma desculpa, ora digo que fiz e copio, ora digo que fiz e aldrabo. De falta de criatividade não me podem acusar.

Então: caso tenham optado pela opção de dizer que não fizeram o trabalho de casa, aqui estão dez desculpas que eu - Joana Camacho - daria. Acho que são de qualidade e extremamente convincentes. Aposto que isto engana qualquer professor. Mesmo os que têm um grau razoável de inteligência.

1. Fui assaltada no caminho para a escola e levaram-me o trabalho de casa.
2. O trabalho de casa aborreceu-se com um dos discursos do Vítor Gaspar e entrou em estado de coma.
3. O meu cão quis marcar o trabalho de casa como território e fez chichi para cima dele.
4. O Passos Coelho mandou-o emigrar.
5. Cortaram-lhe o subsídio de Natal e ele suicidou-se.
6. O meu trabalho de casa apaixonou-se pelo relatório de Química e já não os vejo desde há uns dias. Desconfio que se tenham casado em segredo e que estejam agora a viver a Lua de Mel.
7. Apanhei-o a ver a Casa dos Segredos e ele nunca mais foi o mesmo. Está de momento internado num Hospital Psiquiátrico.
8. Quando ia a sair de casa, tropecei nas escadas e caí. O trabalho de casa aleijou-se e teve de ficar em casa a pôr gelo nas letras.
9. O segurança não o deixou entrar na escola, porque não trazia cartão nem identificação.
10. O meu pai não o deixou sair de casa porque diz que ele ainda é muito novo e não tem idade para estas coisas.

E então? Que tal? Vá, não me agradeçam, ora essa! Faço tudo pelos meus leitores. Agora podem deixar de fazer os trabalhos de casa. Com estes dez truques na manga, ninguém vos pára.

Caso tenham optado por dizem que o fizeram e copiaram rápida e discretamente o trabalho de casa por alguém, só tenho uma recomendação a fazer: não copiem daqueles broncos que não fazem a mais pequena ideia do que estão a fazer. Ao menos dignem-se a copiar de quem sabe! Já que decidiram copiar, ao menos copiem como deve ser. E outra coisa: o objetivo é o professor não ver. Só para relembrar. Se estão nas filas da frente ou numa área com muita visibilidade por parte do professor, têm de tomar precauções extra. Se sabem que não fizeram o trabalho de casa, pensem estrategicamente: sentem-se atrás dos badochas e têm o vosso problema resolvido. Caso haja alguma coisa que não consigam copiar, não se preocupem. Copiem o resto. Se o professor vos perguntar justamente a que não fizeram, digam o seguinte:

- Professora, esta não consegui fazer...

Resulta sempre. O que pode acontecer é mandarem-vos responder à seguinte. Portanto é bom que tenham alguma coisa feita, sim?

Terceira e última opção: aldrabaram aquilo tudo e disseram que estava feito. Ora então muito bem. É bom que tenham uma boa capacidade de improviso, porque é disso que vão precisar. Eu gosto desta opção porque é das que dá menos trabalho. O que têm de fazer é o seguinte: se vos mandarem responder, lêem a pergunta, vão a algum texto que tenha antes, relacionado com o exercício que estão a fazer, fazem uma leitura na diagonal, e começam a ler um parágrafo que pareça minimamente decente. O que vai acontecer é o seguinte:

- Não. Repara, <nome da pessoa em questão>, isso não responde à pergunta que estão a colocar. O que disseste está certo, mas tinhas de acrescentar mais qualquer coisa.
- Ah... Certo, professora. Eu de facto não tinha bem a certeza desta.

E pronto. O assunto morre ali. É ou não é perfeito? 

Vá, boa sorte com os TPC's e tenham juizinho. Eu posso fazer isto porque sou uma profissional experiente. Mas o meu método pode não funcionar à primeira vez com amadores. Mas tentem. Practice makes perfect. Boas aulinhas, para quem as tem!

12 comentários:

  1. Parabéns. Daqui a 10 anos vamos todos viver numa sociedade analfabeta por tua culpa! xD

    ResponderEliminar
  2. Eu fico mais preocupada é agora, que não há trabalhos de casa (na faculdade).
    Não sabes por onde estudar, nem o que estudar... e depois tens avaliações orais onde nos perguntam "O que são as proteínas argonautas?" e tu ainda pensas que pode ter alguma coisa a ver com astronautas, mas pensas melhor e reparas que não... e entretanto o tempo de resposta já passou e tumba: ZERO redondinho = venha cá para a próxima.

    E realmente a pergunta era daquelas que "eu não tinha bem a certeza"...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Argo... quantas?! Exato. Se me perguntassem isso a mim, eu diria que "são proteínas utilizadas pelos astronautas que são agricultores". Aposto que anda lá perto, não?

      De certeza que te estás a sair bem na faculdade, mesmo com essas tais avaliações orais. :) Um beijinho!

      Eliminar
  3. Bonito, Joana! Sim, senhora! A dar "bons" conselhos! E depois são as belas notas nos testes... Mas deixa-me dizer-te que aquela "Não fiz essa pergunta." não engana o mais ingénuo dos professores. Aliás, é muito batida lá na turma. Sempre pelas mesmas pessoas.
    Enfim, deixá-las serem felizes! :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa... Aquele momento em que me esqueci que há professores meus que lêem isto. Mas calma! Eu não faço isto, claro. E toda a gente que me lê sabe (acho eu) que os meus textos dispõem sempre daquela bonita figura de estilo que é a ironia. Tudo isto é a brincar. Não são conselhos para ninguém. E quanto às "belas notas nos testes", nada tiveram a ver com trabalhos de casa deixados por fazer, parece-me.

      E há casos e casos. Essa do "não fiz essa pergunta" às vezes até resulta. Depende da pessoa e da "fama" que já tem, no que toca a trabalhos de casa. A meu ver, claro.

      Volto a afirmar: eu faço (quase) sempre os trabalhinhos de casa. Estava a brincar! :)

      Eliminar
    2. ahahahahahah
      Joana, acho que vão ter que mudar de estratégia!

      Eliminar
    3. E tu que não viesses para aqui gozar da minha desgraça, Jardim. XD

      Eliminar
  4. Adorei. xD Mas acho que se eu usar alguma dessas desculpas, atiram-me com o Livro do Ponto! Ahaha.

    Adoro o teu Blog, parabéns. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Pedro. Eu não tenho cá desses problemas, porque a minha escola está em crise e já não há Livros do Ponto para ninguém. He he. Muito obrigada! Beijinho. :)

      Eliminar
  5. "professora, nesta tive dúvidas" é um clássico... Eu acho que até é bastante fácil escapar aos trabalhos de casa.
    Na minha turma, são raros os professores que mandam trabalhos de casa; apenas dois, para ser mais precisa e só um deles é que faz a "fiscalização".
    Eu acho que os trabalhos de casa deviam ser opcionais. Os professores deviam marcá-los algumas vezes, mas não ver quem fez ou não... Apenas corrigir... Porque, se pensarmos bem, até dão um certo jeito

    http://passaseistoeaquilo.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, eu uso uma outra versão do "professora, nesta tive dúvidas", mas a ideia é a mesma: "professora, esta não consegui fazer". De todos os meus professores (acho que são sete), três mandam trabalhos de casa regularmente. Mas só uma é que tem a mania de verificar quem fez ou não.

      Concordo plenamente. Os trabalhos de casa até são uma coisa boa, mas há malta que abusa na quantidade de trabalhos que manda para casa. E a nossa vida não é só a escola, também temos de ter tempo para outras coisas, não é?

      Eliminar