Respondendo à pergunta que é
título desta crónica: eu não queria estar aqui a lançar boatos, mas estou
bastante confiante que sim.
Tendo como base a minha
experiência de vida (sempre fui fã de filmes de terror), o que me diz a mim que
a senhora idosa que vive aqui ao lado não é uma assassina em série contratada
especificamente para me matar? Só espero não me assustar quando chegar ao meu
quarto, ligar a luz e vir a minha vizinha idosa a apontar-me uma faca. É que a
velha sofre de incontinência urinária, e depois é uma maçada para lavar os
tapetes. Se a minha vizinha me estiver a ler, peço-lhe por favor que, se
hipoteticamente me pretender assassinar, o faça na minha cozinha, porque o chão
é em azulejo. Desde já agradeço a sua consideração.
Apelando uma vez mais à minha
experiência de vida: as pessoas têm reações muito estranhas, quando
confrontadas com a morte. As pessoas nos filmes de terror, por exemplo. Há
sempre aquela rapariga que ouve um barulho na cozinha e grita: “Está aí
alguém?” Sim, porque o assassino lhes vai claramente responder: “Sim, estou na
cozinha. Queres tomar alguma coisa, ou posso já despachar o assunto e
esfaquear-te múltiplas vezes no abdómen?”
Honestamente, acho que deviam
escolher pessoas mais inteligentes para participarem em filmes de terror. Eu,
por exemplo. Não tenho um QI extraordinário, mas não sou parva ao ponto de
entrar em casas abandonadas, caves ou compartimentos suspeitos, quando oiço
barulhos estranhos. É um grande disparate, meus senhores. Não façam isso.
Se em algum futuro longínquo eu
me tornar milionária, que fique bem claro que haverá morte depois da vida para
o indivíduo que se atrever a contar seja o que for à Judite de Sousa. Só queria
deixar isso bem claro.
Toda a gente conhece – ou pelo
menos já ouviu falar – daquela espécie que fala com Deus quando tem algum amigo
ou familiar doente, ou às portas da morte. Acho isso muito bonito. Eu não
acredito em Deus. Se ao menos ele me enviasse um sinal… como o de encher o meu
quarto de chocolates Toblerone e pôr
uma máquina de algodão-doce na minha casa de banho, por exemplo. Isso faria de
mim uma pessoa particularmente crente. E, quem sabe, um dia encontrar-me-iam
por aí a rezar com excecional fervor pelo meu falecido periquito.
Verifico agora que se me acabaram
os pacotes de lenços. Desespero. Vou correr até à tabacaria, esperando não
escorregar em iogurte líquido, tropeçar no gato da senhora Ermelinda, ou ser
confrontada com uma qualquer situação que vá provocar a minha morte precoce. Ao
menos deixem-me assoar o nariz antes de falecer. Uma pessoa morta não é bonita
de se ver, mas uma pessoa morta com ranho no nariz é uma imagem particularmente
desagradável.
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