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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A experiência traumática de andar num elevador

Não sei se é de mim, ou se o mundo está mesmo repleto de experiências traumáticas. Por exemplo... que porcaria é essa dos elevadores? Confesso, nunca sei como agir perante um elevador. E não, não é por ter claustrofobia ou uma daquelas doenças com nome esquisito que os psicólogos inventaram para ganhar dinheiro à custa de pessoas que acreditam na Fada dos Dentes. É psicológico, malta. É tudo psicológico. (Mas não me ponham aranhas, ratos ou baratas à frente, que eu grito!)

Os elevadores são uma cena... que a mim não me assiste. Ui, há tanto para falar, no que toca a elevadores. Ó pá, vão mesmo dizer-me que não é - no mínimo - constrangedor ir num elevador (com pouco mais de 1,50 metros quadrados) ao lado de perfeitos (ou não tão perfeitos quanto isso) desconhecidos? Tenham juízo! O que é que se faz num elevador? Qual é o procedimento social a seguir? O que dizer? O que não dizer? Apresento-vos a complexidade de uma viagem no elevador, caros leitores.

É de conhecimento geral que eu sou uma pessoa que ri por tudo e por nada. É um facto, não há como negá-lo. E o pior é que o estúpido do meu cérebro (seu cabrão!) acha divertido pôr-me a rir nas situações mais constrangedoras e em que, basicamente, não é suposto rir. Entendes, cérebro? Não é suposto, ó parvo! Haverá algo mais constrangedor do que ir num elevador, ao lado de pessoas que não se conhecem umas às outras - tudo em silêncio -, e, do nada, começar a rir-me sozinha? Pois. É por estas e por outras que há gente por aí a chamar-me de parva.

Outra coisa: porque é que, quando entramos num elevador, todos sentimos uma súbita necessidade de mandar mensagens, abrir e fechar aleatoriamente as mais variadas aplicações no telemóvel, marcar despertadores e, por fim, olhar para a agenda? Pois claro: porque ninguém sabe o que é que é suposto fazer num elevador. Depois há aquelas pessoas com ar esquisito que insistem em olhar-nos da cabeça aos pés, com aquele ar de Lili Caneças a comentar a vestimenta da malta famosa que vai aos eventos sociais das revistas e dos canais de televisão ou daquelas marcas importantes.

- Ui... esta é cá uma galdéria!
- Ai, credo. Esta deve ser uma sem abrigo, pobrezinha... está tão mal vestida!
- Olha-me esta, com aquela malinha a pensar que é alguém. Com imitações da Louis Vuitton não vais lá, filha.
- Esta parece que é filha do outro, que é sobrinho do marido da afilhada daquele médico muito conhecido... está tão mal conservada, meus Deus...
- 'Ca nojo. Onde é que encontraste esses sapatos? No caixote do lixo, ó sua porca?

Sim, é isto que a malta pensa de nós. Isto e coisas piores. Só não vos digo quais, para não ferir susceptibilidades, causar traumas, e quebrar corações. (Preocupo-me tanto com os meus leitores.) Mas pior que tudo isto, só mesmo aqueles elevadores que têm música ambiente. Só por causa das coisas. Aposto que o cromo que inventou aquilo, fê-lo de propósito para nos dificultar ainda mais a vida. "Ah, vamos lá pôr música parva, mexicana, instrumental, e que não presta, nos elevadores, para deixar a malta ainda mais constrangida." O quê? Pôr música para gente normal? Não queremos cá disso! E há pessoal que não tem qualquer sentido de oportunidade. Que anormal é que tem a lata de entrar num elevador e pôr-se a assobiar ou a cantarolar a musiquinha que está a dar? Ó pá, parem lá com isso, por favor. Mas, agora a sério, pessoas que têm a mania de estabelecer conversações sobre o tempo, o Governo, o estado do país e sobre o quanto estão atrasados sabe-se lá para onde: ninguém quer saber. Convençam-se disso.

Como se já não bastasse, ainda há pessoas que entram no elevador e se entretêm a observar-se ao espelho, procurar coisas-que-jamais-são-encontradas-nos-subúrbios-da-mala até ao fim da viagem, pentear-se, ajeitar a camisa e endireitar a gravata... Quanto a mim, eu opto por olhar para o teto, controlar-me (inutilmente) para não rir à frente das pessoas, verificar se os atacadores dos meus sapatos estão em ordem, balançar nos meus próprios pés para a frente e para trás, bloquear e desbloquear o telemóvel vezes e vezes sem conta e... pronto. Resta-me rezar para que o elevador chegue depressa ao meu andar, para eu poder sair o mais rapidamente possível dali. É por estas e por outras que opto sempre pelas escadas, apesar de contribuir para uma respiração ofegante absolutamente desnecessária.

E quando nos enganamos no andar? Ui, que humilhação. Saímos do elevador, constatamos que aquelas paredes que nos rodeiam nos são desconhecidas, e voltamos rapidamente atrás afirmando que "afinal não era neste", acabando - nós - por sermos alvos de chacota durante o resto da viagem até ao andar pretendido. O incrível é que há sempre aquela pessoa que insiste em olhar fixamente para nós durante toda a viagem. Sempre com a mesma expressão séria. Nem mesmo quando olhamos para a pessoa, e constatamos que nos está a mirar fixamente, ela pára. Ora cá está um exemplo de uma viagem de elevador absolutamente arruinada.

Por favor digam-me que eu não sou a única anormal a ter traumas com elevadores e - particularmente - com pessoas que partilham o elevador comigo. Não sou, pois não? Pois não...?

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